Construção mole com feijões fervidos (1936)


 A Construção mole com feijões fervidos(1936), é uma das obras mais emblemáticas do artista surrealista Salvador Dali. Essa pintura retrata uma cena surreal, onde objetos inanimados como relógios, espelhos e colheres estão derretendo como se fossem feitos de material maleável.

Para realizar uma análise psicanalítica aprofundada dessa obra, é importante levar em consideração tanto a vida pessoal de Dali quanto os conceitos fundamentais da psicanálise, desenvolvidos por Sigmund Freud.

Dali afirmou que suas obras de arte eram uma expressão do seu próprio inconsciente, e acredita-se que sua pintura reflete os princípios da teoria freudiana, especificamente relacionados à sexualidade e aos impulsos reprimidos.

A presença dos objetos derretidos na pintura pode ser interpretada como uma representação simbólica do desejo sexual e de sua natureza fluida e instável. Os relógios derretidos podem simbolizar a passagem do tempo e a fluidez dos desejos sexuais ao longo do processo de amadurecimento.

Além disso, o objeto sexualizado presente na pintura, representado pela colher, pode ser uma representação fálica. A ideia de "feijões fervidos" pode sugerir a explosão de desejos reprimidos que foram fervidos e finalmente libertados.

A forma derretida e maleável dos objetos pode ser interpretada como uma manifestação visual da forma como os desejos sexuais podem ser moldados e transformados pelos processos de repressão e sublimação. Essa transformação pode ser vista como uma expressão do conceito freudiano de "polimorfismo perverso", onde a sexualidade humana é considerada fluida e pode tomar formas variadas e mutáveis.

Adicionalmente, a presença dos espelhos na pintura pode indicar a introspecção e a autorreflexão. Na psicanálise, os espelhos são muitas vezes associados à construção da identidade, uma vez que nos refletimos neles para entender quem somos. Nesse sentido, a deformação dos espelhos na obra de Dali pode representar uma perturbação da identidade, uma busca constante por uma compreensão de si mesmo em um mundo instável e em constante transformação.

Portanto, a análise psicanalítica dessa obra de Salvador Dali revela uma representação simbólica dos impulsos sexuais e desejos reprimidos, bem como das questões de identidade e autorreflexão. A pintura desafia a lógica tradicional e condensa muitas das características e temas frequentemente associados ao movimento surrealista.

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