Como a Primeira Guerra Mundial influenciou as ideias de Freud sobre luto e melancolia

 


Por Prof. Dr. Wagner Montanhini


A Primeira Guerra Mundial teve um impacto significativo nas ideias de Sigmund Freud sobre luto e melancolia, refletindo as profundas transformações sociais e psicológicas que ocorreram durante e após o conflito. A seguir, estão alguns pontos-chave que ilustram essa influência.


Contexto Histórico e Psicológico

Freud escreveu seu ensaio "Luto e Melancolia" em 1915, durante um período marcado por grande turbulência e perda, não apenas em nível individual, mas também coletivo. A guerra trouxe à tona a experiência da perda em massa, o que fez com que Freud refletisse sobre as respostas emocionais e psíquicas que as pessoas tinham diante da morte e da ausência de entes queridos.

Luto e Melancolia

Em seu trabalho, Freud diferencia o luto da melancolia. O luto é visto como uma resposta normal à perda, um processo que envolve a aceitação e a elaboração da dor emocional. Já a melancolia é caracterizada por um estado de profunda tristeza e desvalorização do eu, que pode se manifestar quando a perda não é adequadamente elaborada. Freud observou que, em tempos de guerra, a melancolia poderia se intensificar devido à desilusão e ao sofrimento coletivo, levando a uma patologia mais complexa.

O Impacto da Guerra nas Teorias de Freud

A experiência da guerra influenciou Freud a considerar como as perdas não eram apenas individuais, mas também sociais. Ele percebeu que a guerra poderia gerar um estado de "cegueira lógica", onde as pessoas racionalizavam a violência e a morte como inevitáveis, o que poderia dificultar o processo de luto saudável. A guerra, portanto, não apenas causou mortes, mas também alterou a maneira como as pessoas vivenciavam e expressavam seu luto.

Reflexões sobre a Sociedade

Freud também notou que a guerra transformou o luto em uma experiência mais isolada. A perda, que antes poderia ser compartilhada e ritualizada coletivamente, passou a ser um sofrimento mais individualizado e marcado pelo silêncio. Isso resultou em uma patologia do luto, onde os enlutados muitas vezes se sentiam sozinhos em seu sofrimento, sem os rituais sociais que poderiam ajudá-los a processar a dor.

Conclusão

A Primeira Guerra Mundial, portanto, não apenas moldou as ideias de Freud sobre luto e melancolia, mas também refletiu as complexidades da experiência humana diante da perda em um mundo em conflito. As suas teorias continuam a ser relevantes, pois oferecem uma compreensão profunda das emoções humanas em tempos de crise e desespero. A obra de Freud permanece um ponto de partida essencial para o estudo das respostas psíquicas à perda, especialmente em contextos de grande sofrimento coletivo.


Referências:

FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. In: ______. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 14, p. 243-263.

FREUD, Sigmund; EINSTEIN, Albert. Por que a guerra? In: DAVID, Christophe. Einstein e Freud: Por que a guerra? Paris: Payot & Rivages, 2005.

FUKS, Betty Bernardo. "Da guerra e da morte. Temas da atualidade." De Sigmund Freud: um século depois. Revista De Psicologia, Fortaleza, v. 7, n. 2, p. 110-117, 2017. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/psicologiaufc/article/view/6279. Acesso em: 07 ago. 2024.

VENTURA, Deisy de Freitas Lima; SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva (org.). Um diálogo entre Einstein e Freud: por que a guerra? Santa Maria: FADISMA, 2005. Disponível em: https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05620.pdf. Acesso em: 07 ago. 2024.

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