De que forma a experiência da guerra influenciou a teoria psicanalítica de Freud



Por Prof. Dr. Wagner Montanhini


A experiência da Primeira Guerra Mundial influenciou profundamente a teoria psicanalítica de Sigmund Freud, levando-o a refletir sobre a natureza humana, a violência e os processos psíquicos relacionados ao luto e à melancolia. A seguir, estão alguns pontos que destacam essa influência.

Reflexões sobre a Violência e a Natureza Humana

Freud, em suas correspondências com Albert Einstein, abordou a questão da guerra e da violência, propondo que os conflitos humanos são frequentemente resolvidos pela força, refletindo uma trajetória evolutiva da agressão. Ele argumentou que, embora a civilização tenha tentado controlar a violência, os instintos agressivos permanecem latentes, prontos para emergir em situações de conflito, como na guerra.

Luto e Melancolia em Tempos de Guerra

A guerra trouxe à tona a experiência da perda em massa, levando Freud a explorar como as pessoas lidam com o luto. Em seu ensaio "Luto e Melancolia", ele diferencia entre o luto saudável, que permite a elaboração da dor, e a melancolia, que pode surgir quando a perda não é adequadamente processada. A intensidade da perda durante a guerra pode exacerbar a melancolia, resultando em um sofrimento psíquico mais profundo e prolongado.

A Crítica à Civilização

Freud também utilizou a guerra como um ponto de partida para criticar a civilização moderna. Ele argumentou que a guerra revelava as falhas da sociedade em controlar os instintos humanos, sugerindo que a civilização, em sua tentativa de reprimir a agressividade, poderia estar criando condições para a violência. Essa crítica se entrelaça com suas teorias sobre a pulsão de morte, que se tornaram mais proeminentes em suas reflexões pós-guerra.

A Busca por Soluções

Em suas discussões com Einstein, Freud expressou um certo pessimismo sobre a capacidade da humanidade de evitar guerras futuras. Ele sugeriu que a criação de uma autoridade central, como a Liga das Nações, poderia ser um passo na direção de resolver conflitos sem violência, mas reconheceu que a falta de poder e a prevalência de ideais nacionalistas dificultavam essa possibilidade.

Conclusão

A Primeira Guerra Mundial não apenas moldou a obra de Freud, mas também ampliou sua compreensão sobre a psique humana, a relação entre luto e melancolia, e a natureza dos conflitos sociais. Suas reflexões durante esse período crítico continuam a ser relevantes, oferecendo insights sobre a condição humana e os desafios da civilização contemporânea.


Freud expressou pessimismo sobre a capacidade da humanidade de evitar guerras, mas sugeriu que a criação de uma autoridade central, como a Liga das Nações, poderia resolver conflitos sem violência.

Referências:

FREUD, Sigmund. Luto e melancolia. In: ______. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 14, p. 243-263.

FREUD, Sigmund; EINSTEIN, Albert. Por que a guerra? In: DAVID, Christophe. Einstein e Freud: Por que a guerra? Paris: Payot & Rivages, 2005.

FUKS, Betty Bernardo. "Da guerra e da morte. Temas da atualidade." De Sigmund Freud: um século depois. Revista De Psicologia, Fortaleza, v. 7, n. 2, p. 110-117, 2017. Disponível em: http://www.periodicos.ufc.br/psicologiaufc/article/view/6279. Acesso em: 07 ago. 2024.

VENTURA, Deisy de Freitas Lima; SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva (org.). Um diálogo entre Einstein e Freud: por que a guerra? Santa Maria: FADISMA, 2005. Disponível em: https://library.fes.de/pdf-files/bueros/brasilien/05620.pdf. Acesso em: 07 ago. 2024.

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